Eram perto das 4h da manhã quando chegámos ao hospital das Caldas da Rainha, devido a hora foi fácil estacionar.
Disse ao pai Christophe que iria andar desde o estacionamento até à entrada do hospital, mas recordo-me que as dores lombares já eram bem fortes e aquele caminho pareceu-me uma eternidade.
Chegámos às urgências, demos logo entrada e subimos até a maternidade. Aquele corredor da sala de espera da maternidade que tão bem conhecemos estava vazio e silencioso. Não havia ninguém na triagem, toquei a campainha e nada, o tinha pedido ao pai Christophe para ir buscar um café ao fundo do corredor. Passado algum tempo, voltei a tocar a campainha, apareceu uma enfermeira, entramos para a triagem, era notório que já tinha iniciado o trabalho de parto.
Pouco tempo depois fui observada pelo médico da urgência, estava com três dedos de dilatação. Apenas três dedos e já estava há quase 9h com contrações, imaginei que iria ser um longo dia.
Fomos fazer um CTG as contratações já tinham espaçado mais um pouco, foi colocado o cateter e demos entrada para um "quarto". As enfermeiras foram muito atenciosas e preocupadas, perguntaram se tinha plano de parto e pediram-me, começaram a ler e conversamos sobre o que era possível ou não fazer (nada garante que possamos seguir o plano a risca). Por exemplo, era impossível fazer a monitorização portátil, para poder ser livre de movimentos, pois não tinham nenhum aparelho móvel de CTG.
Já no "quarto" , cada vez que vinha uma contração, tentava ao máximo lembrar das respirações e executa-las.
Dancei, já tinha preparado uma play list de músicas, estive na bola de pilates fiz novamente meditações de preparação para o parto da Inês Nunes Pimentel e nem dei pelo dia nascer. O pai Christophe acabou por adormecer um pouco.
A enfermeira ia passando para saber se precisava de alguma coisa inclusive medicação para as dores. Há muito que já tinha decedido que queria (se fosse possível) um parto natural sem qualquer tipo de medicação, queria passar por essa experiência, por essa transformação (respeitando outras opiniões, até porque se passar por outra irei pedir epidural, só para sentir a diferença), por isso recusei sempre.
Por volta das 8h e pouco fui novamente observada pela nova equipa de enfermagem. Eu que tinha pensado em ir para o hospital só quando tivesse com o parto mais evoluído, (para evitar que pudessem apressar, o que nunca aconteceu), mas o facto de ser a primeira gravidez e de estar a mais de meia hora da maternidade fez com que fosse cedo para lá, estava há 4h ali sem muito liberdade de movimentos, pois tinha que estar ligada ao aparelho de monitorização do bebé e minha e apenas estava com seis dedos de dilatação.
A enfermeira colocou-me a soro para me hidratar e trouxe-me um chupa chupa para me dar alguma energia, até há hora de almoço não me recordo do tempo passar apenas que nasceram três ou quatro crianças nessa manhã, o "quarto" tinha as paredes da espessura de um cortina.
As contratações aumentavam de intensidade e diminuía o intervalo entre elas, o Christophe ajudava-me ao fazer massagens na lombar, e nos exercícios de respiração. Pedi um saco de água quente e com a ajuda da bola experimentava posições que me deixasse mais confortável. Era 17h e pouco lembro-me de ter uma contração que nunca mais acabava, o Christophe chamou a enfermeira, ela perguntou se podia observar e assim que ela vai fazer o toque, arrebentaram as águas, foi um enorme alívio.
A partir dali pensei que faltasse pouco pois já estava com oito dedos de dilatação, a enfermeira deu-me um calipto para me dar energia, ajudou.
Algum tempo depois e com as contratações cada vez mais fortes, comecei a sentir aquela sensação de quando estamos prestes a desmaiar, a ouvir tudo muito ao longe e não sentia as contrações, mesmo quando no CTG ela estava bem presente. Estava a viver a partolândia (que já tinha lido sobre tal, no livro da enfermeira Carmen "Nascemos! E agora?"), era o meu corpo a dar-me analgésicos naturais e endógenos, nada mais, nada menos que um cocktail de endorfinas, hormonas associadas ao bem estar, e a ocitocina. Mas por vezes vinha uma contração que me lembrava que estava prestes a parir.
Não sei que horas eram, quando chamamos a enfermeira para me observar novamente, e quando ela nos disse que já via o cabelo do bebé, pensei estava perto de o conhecer.
Coloquei-me de lado para tentar ajudar o bebé a posicionar-se melhor para sair, mas não estava a conseguir, a enfermeira perguntou-me se queria ir até a sala de partos pois a posição e poder agarrar para fazer força poderia ajudar, disse que sim, já estava a ficar cansada de tantas horas. (Continua)
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